Depressão

DEPRESSÃO: QUAL O CUIDADO NECESSÁRIO? REFLEXÕES SOBRE AS DIMENSÕES HUMANAS ENVOLVIDAS NA VIVÊNCIA DESTE FENÔMENO.

 

DEPRESSÃO – “MAL ESTAR” CONTEMPORÂNEO

“Mal estar” contemporâneo, assim a literatura se refere à depressão como uma das psicopatologias predominantes de nosso tempo, resultado direto das novas configurações simbólicas dos discursos sociais. Um fenômeno de difícil compreensão.

DEPRESSÃO – ESPAÇO DO CUIDAR

Através do Espaço do Cuidar tenho o compromisso em contribuir para a reflexão, discussão e apresentação de pesquisas, estudos e informações sólidas e que possam contribuir para o crescimento daqueles que buscarem neste espaço algum tipo de ajuda e cuidado para enfrentar o fenômeno da depressão, ou ajudar a outros. Digo fenômeno, porque considero o homem a partir de uma visão ampliada e integrada de ser humano, a saber, uma visão biopsicossocial-espiritual, sendo, portanto, a depressão considerada e compreendida para além de apenas uma doença.

Com isto não  desprezo ou desconsidero as contribuições das classificações nosográficas (DSM-V/CID-10) da depressão como doença, pois elas nos ajudam na comunicação entre profissionais que cuidam do sujeito adoecido, mas lanço um olhar para um cuidado tridimensional do homem (biopsicossocial-espiritual). A dimensão espiritual é tratada a partir da perspectiva teórica prática da abordagem psicoterápica da Logoterapia e Análise Existencial, abordagem científica desenvolvida pelo psiquiatra e neurologista Viktor E. Frankl. 

DEPRESSÃO – ESTUDOS REALIZADOS

Iniciando nossa jornada de contribuição ao tema, deixo um fragmento do último estudo que realizei como o título “FENOMENOLOGIA-EXISTENCIAL E DEPRESSÃO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA DE CONTRIBUIÇÕES DA PRODUÇÃO ACADÊMICA BRASILEIRA – 2013 – 2017”.

Tomando em questão o aspecto histórico do termo depressão, de acordo com Monteiro e Lage (2007) o termo surgiu e passou a ser utilizado por via da relação das discussões sobre a melancolia no século XIX, onde, segundo afirmação do autor, há depressão na melancolia. Nota-se que durante o século XX o termo depressão apresenta-se com novas e distintas nomenclaturas: depressão hereditária e psicogênica, depressão neurótica e psicótica, depressão primária e secundária, depressão endógena e reativa, etc.

  • Depressão – Perspectiva da Psiquiatria Biológica

Tais distinções do termo depressão foram cedendo espaço para os manuais de psiquiatrias – DSM-5 (APA, 2014) e CID-10 (OMS, 1993) que trouxeram a ideia de gradação e continuidade das manifestações clínicas apresentadas nos distúrbios do humor.

No Manual de diagnóstico (DSM-5, 2014) o tema depressão é tratado na seção II Critérios no capítulo “Transtornos Depressivos” separado dos “Transtornos Bipolares e Transtornos relacionados”, aos quais estava ligado no DSM-IV. Segundo o citado manual 

A característica comum desses transtornos é a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. O que difere entre eles são os aspectos de duração, momento ou etiologia presumida (DSM-5, 2014, p. 155).

Conforme o citado manual os “Transtornos Depressivos” incluem transtorno disruptivo da desregulação do humor, transtorno depressivo maior (incluindo episódio depressivo maior), transtorno depressivo persistente (distimia), transtorno disfórico pré-menstrual, transtorno depressivo induzido por substância/medicamento, transtorno depressivo devido a outra condição médica, outro transtorno depressivo especificado e transtorno depressivo não especificado (DSM-5, 2014, p. 155).

O diagnóstico de Depressão Maior no Manual de Diagnóstico (DSM-5, 2014, p.161) leva em conta que devem estar presente cinco ou mais sintomas, como fadiga, alteração de humor, desânimo, insônia e alteração do apetite, por duas ou mais semanas. Além disso, o paciente refere a presença de sintomas diários como sentimento de inutilidade ou culpa excessiva ou inapropriada (que podem ser delirantes) quase todos os dias (não meramente auto-recriminação ou culpa por estar doente). 

Outros sintomas relatados são: fadiga; agitação ou retardo psicomotor; hipersonia ou insônia; ganho ou perda significativa de peso sem estar fazendo nenhuma dieta (mudança de 5%) e diferença no apetite; interesse diminuído para atividades; humor deprimido; capacidade diminuída para pensar ou se concentrar, ou tomar decisões e pensamentos recorrentes de morte (DSM-5, 2014, p, 161).

De acordo com a introdução da Décima Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e de Problemas Relacionados a Saúde – CID-10, a mesma, é a última de uma série de revisões que se iniciou em 1893 como a Classificação de Bertillon ou Lista Internacional de Causas de Morte. Ainda segundo A CID-10 

Uma classificação de doenças pode ser definida como um sistema de categorias atribuídas a entidades mórbidas segundo algum critério estabelecido. Existem vários eixos possíveis de classificação e aquele que vier a ser selecionado dependerá do uso das estatísticas elaboradas. Uma classificação estatística de doenças precisa incluir todas as entidades mórbidas dentro de um número de categorias (p.3).

Na CID-10 o tema da depressão é tratado no capítulo V – Transtornos mentais e comportamentais (F00-F99) – no eixo F30-F39 – Transtorno do humor (afetivos), especificamente no F32 – Episódios depressivos, e F33 – Transtorno depressivo recorrente.

A literatura pertinente definiu duas perspectivas predominantes para a discussão sobre o tema da depressão, a saber: a teoria psicanalítica e a perspectiva da psiquiatria biológica, ambas de grande contribuição para a compreensão do fenômeno. 

A partir das vertentes “biologistas” a dimensão psíquica do conceito da depressão não era considerado (MONTEIRO; LAGE, 2007). A psicanálise freudiana, neste contexto, desempenhou o papel de contribuir para que a dimensão da subjetividade psíquica, a complexidade da experiência humana, fosse mantida.

  • Depressão – Perspectiva Psicanalítica

Um estudo sobre a perspectiva psicanalítica da depressão foi desenvolvido por Tavares (2010). “Mal estar” contemporâneo, assim o autor se refere à depressão como uma das psicopatologias predominantes de nosso tempo, resultado direto das novas configurações simbólicas dos discursos sociais. Discursos estes, que circulam em contextos que vivenciamos e que nos exigem determinadas formas de aparecer na cena social. 

Nos estudos de Tavares (2010) o autor apresenta sua indagação sobre o aumento da medicalização dos casos diagnosticados como depressão e relata casos em que pacientes se diziam depressivos e insatisfeitos com relação ao tratamento medicamentoso. A recorrência de tais casos com ausência de melhora qualitativa direcionou o autor a investigar a depressão do ponto de vista clínico e o uso medicamentoso a partir de uma perspectiva psicanalítica.

Como parte dos resultados dos estudos de Tavares (2010) constata-se que os efeitos da medicalização da depressão seriam uma alienação subjetiva, compreendida como uma (ex)-sistência do sujeito, que se refere, então, ao assujeitamento das subjetividades ante o significante Outro (diagnóstico de depressão) e ao remanejamento pulsional a que se prestam as intervenções medicamentosas (p.117).

 O autor ressalta que mesmo quando os pacientes obtêm ganhos satisfatórios por meio da vida medicalizada, a disposição para o trabalho psicoterapêutico se esvai, “pois o silenciar dos afetos suprime eficazmente tudo aquilo que poderia descentralizar o sujeito e colocá-lo em questão” (p.116).

A perspectiva biológica (organicista) da depressão, com ligações com a disciplina de psicopatologia e seu percurso em direção a uma linguagem comum, objetivada na classificação psiquiatra encontrada nos manuais, reforça a ideia de que a depressão seria de natureza biológica (BOGOCHVOL, 2001; NOGUEIRA FILHO, 2001 apud MONTEIRO; LAGE, 2007). O propósito da classificação psiquiatra foi, e continua sendo, a “concordância entre clínicos e pesquisadores quanto ao diagnóstico, por meio de critérios estabelecidos com tamanha objetividade e precisão que viabilizariam o acordo pleno entre tais profissionais, mesmo que oriundos das mais variadas escolas, quando colocados diante de um mesmo caso” (BEAUCHESNE, 1989 apud MONTEIRO; LAGE, 2007) 

Considerando a importância da diversidade de perspectivas na busca da compreensão do fenômeno depressão, junto as duas perspectivas predominantes para a discussão sobre o tema, a saber, a teoria psicanalítica e a perspectiva da psiquiatria biológica, definidas pela literatura pertinente, encontramos, conforme destaca Santiago e Holanda (2013), a perspectiva fenomenológica-existencial, com tradição nos estudos dos fenômenos psicopatológicos. 

  • Depressão – Perspectiva Fenomenológica-Existencial

Em seu artigo “Fenomenologia do corpo vivido na depressão” Bloc et al. (2015) discute e busca compreender o fenômeno da depressão a partir da experiência do corpo vivido na depressão com os fundamentos da base teórica de Maurice Merleau-Ponty e da psicopatologia de Arthur Tatossian. 

Utilizando o método fenomenológico crítico os autores realizaram entrevistas com colaboradores que descreveram a experiência vivida da depressão. Como resultado da investigação concluiu-se que o fenômeno da depressão é descrito a partir do reconhecimento de sinais no corpo e da divisão entre corpo físico e mente, e que a experiência da vivência da depressão restringe as possibilidades da existência a partir do que é experimentado no corpo, alterando a relação do sujeito consigo e com o mundo. 

Ferreira e Antúnez (2014) discutem o fenômeno da depressão a partir da questão da modalização afetiva do sofrimento na clínica psicológica. Para os autores a modalização do sofrimento estaria alinhada ao registro ontológico da vida. A depressão neste sentido, só poderia ser compreendida dentro do sofrer e do fruir originários, ou seja, como parte de valor vivencial afetivo, constitutivo e eminentemente humano.

Um importante e contributivo estudo sobre o panorama das pesquisas nacionais sobre depressão na perspectiva fenomenológica foi realizado por Santiago e Holanda (2013). O estudo cobriu um período de mais de três décadas (1981-2013) de publicações indexados em banco de dados. 

Os resultados do citado estudo apontaram que o tema da depressão é pouco explorado em pesquisas com enfoque fenomenológico-existencial e que autores clássicos da perspectiva são pouco citados. Diante disto, os autores sugerem a realização de novas pesquisas e reflexões que possam dar continuidade e ampliar os estudos do tema com enfoque fenomenológico-existencial considerando a alta incidência dos quadros de depressão na população em geral.

Referência bibliográfica: CHAGAS, Andréia Souza de Lemos. Fenomenologia-Existencial e depressão: revisão bibliográfica de contribuições da produção acadêmica brasileira – 2013-2017. 2017.

Mantenho o compromisso como dito no início deste texto de compartilhar postagens com conteúdos sólidos que possam contribuir para compreendermos o fenômeno da depressão e entendermos qual o cuidado necessário a partir de reflexões sobre as dimensões humanas envolvidas na vivência deste fenômeno.

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Um fraterno abraço,

Andréia Chagas